Bolsonaro sucateou os Correios e agora tenta colocar a culpa no Governo Lula
Publicado em 16/12/2024 11:15
Fonte:
Por Márcio Martins, diretor da FINDECT
Os ataques aos Correios por parte da extrema direita, que buscam criar uma cortina de fumaça diante das prisões e cassações de políticos envolvidos nos atos golpistas de 08/01, não são uma novidade. Essa estratégia, usada para desviar a atenção das investigações que avançam sobre crimes contra a democracia, tenta também apagar um dos períodos mais sombrios da história recente da estatal: a gestão de Jair Bolsonaro entre 2019 e 2022.
Durante os quatro anos do governo Bolsonaro, os Correios foram sucateados de forma sistemática, com cortes em benefícios dos trabalhadores, redução de investimentos e uma agenda clara de privatização. Essa política de desmonte, disfarçada de modernização, teve impactos devastadores não apenas para a empresa, mas também para seus trabalhadores e para a população brasileira, que depende da estatal para serviços essenciais.
Os ecetistas enfrentaram, sob Bolsonaro, o desmonte de benefícios que são conquistas históricas da categoria. Auxílio-creche, plano de saúde e outros direitos fundamentais foram atacados, comprometendo diretamente a qualidade de vida de milhares de trabalhadores e suas famílias. Enquanto isso, reajustes salariais foram negados, mesmo em um período de alta inflação, resultando em perdas reais no poder de compra.
Essa política de desvalorização levou a uma onda de insatisfação e greves. Não bastasse a retirada de direitos, os trabalhadores ainda enfrentaram assédio moral e pressão para aderirem a programas de demissão incentivada, que agravaram o quadro de precarização no ambiente de trabalho.
Bolsonaro e sua equipe reduziram drasticamente os investimentos na infraestrutura da estatal, prejudicando sua capacidade de modernizar operações e competir com empresas privadas do setor logístico. O objetivo era claro: enfraquecer a empresa para justificar sua privatização.
Esse sucateamento estratégico, que afeta diretamente a qualidade do serviço prestado, é uma tática recorrente em gestões que priorizam interesses do setor privado em detrimento do público.
Outro episódio emblemático desse período foi a tentativa de vender prédios históricos dos Correios, como o edifício-sede em São Luís, um patrimônio cultural localizado na Praça João Lisboa. A alienação desses bens estratégicos não é apenas um ataque à memória coletiva do país, mas também à soberania nacional.
Transformar o patrimônio público em mercadoria é uma afronta à história e à identidade brasileira. E pior: essa lógica entrega ativos importantes do Estado ao mercado, enfraquecendo ainda mais as estatais.
A defesa da privatização dos Correios foi um dos carros-chefe do governo Bolsonaro, ignorando completamente o papel social da estatal. Os Correios são responsáveis por levar serviços essenciais às regiões mais remotas do Brasil, muitas vezes sem qualquer interesse comercial do setor privado.
Privatizar uma empresa com essa função estratégica seria condenar populações de áreas isoladas à exclusão. Além disso, estudos mostram que privatizações em setores estratégicos frequentemente resultam em aumento de tarifas, redução de serviços e piora na qualidade do atendimento.
A tentativa de privatização não apenas subestima a importância dos Correios para a integração nacional, mas também ignora o impacto social que o encarecimento dos serviços teria para milhões de brasileiros.
Com 360 anos de história, os Correios não são apenas uma empresa, mas uma instituição que simboliza conexão, cidadania e soberania. É inegável sua relevância para a logística nacional e para o atendimento de populações vulneráveis.
O governo Bolsonaro ignorou esse papel estratégico, tratando a estatal como um entrave a ser eliminado, em vez de valorizá-la como uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento do país.
As ações do governo Bolsonaro deixaram um rastro de prejuízos para os Correios, mas o papel da estatal como símbolo de cidadania permanece intacto. Agora, é urgente que os esforços se concentrem na reconstrução da empresa, com investimentos em infraestrutura, valorização de seus trabalhadores e modernização de suas operações.
Os Correios não podem ser reduzidos a uma mera peça no jogo de interesses do setor privado. São um patrimônio do povo brasileiro, que precisa ser defendido, fortalecido e preparado para os desafios do futuro.
Opinião Ecetista – Márcio Martins, diretor da FINDECT