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Postalis pôs R$ 570 mi em empresas ligadas a suposto operador do PMDB

Publicado em 20/01/2016 11:40

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Investigado na Lava Jato sob suspeita de intermediar o pagamento de propina para o PMDB, o empresário Milton de Oliveira Lyra Filho e o sócio dele, o investidor Arthur Pinheiro Machado, operaram em empresas que captaram ao menos R$ 570 milhões do Postalis (fundo de pensão dos funcionários dos Correios).

Área de influência do PT e do PMDB do Senado, o Postalis registrou um rombo de R$ 5 bilhões nos últimos quatro anos. A PF aponta indícios de gestão temerária e crimes contra o sistema financeiro.

Lyra já foi apontado como operador do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e seu nome apareceu em uma anotação apreendida no gabinete do senador Delcídio do Amaral (PT-MS, preso em novembro) sobre suposta propina de R$ 45 milhões para o PMDB.

Operador conhecido no mercado de capitais, Arthur Pinheiro Machado foi dono da corretora Ágora. Ele e Lyra foram sócios em duas empresas, a AML Properties e a Prestige Táxi Aéreo –esta última iniciou processo de homologação na Agência Nacional de Aviação Civil, mas nunca foi autorizada a voar.

As ligações de Lyra e Machado com os cofres do Postalis chamaram a atenção da CPI dos Fundos de Pensão e de órgãos reguladores do mercado.

Em 2010, Arthur Pinheiro Machado fundou o ATG (American Trading Group) para lançar uma nova bolsa de valores para concorrer com a BMF/Bovespa.

Para levantar o dinheiro, a ATG lançou um fundo de investimento chamado ETB (Eletronic Trading Brazil) em setembro de 2010. Apenas duas semanas depois, o Postalis injetou R$ 120 milhões no negócio.

No ano seguinte, Milton Lyra foi nomeado membro do conselho de administração do ATG enquanto o Postalis seguia realizando aportes.

Para continuar capitalizando o empreendimento, Pinheiro Machado criou uma outra empresa, a Xnice Participações. O Postalis adquiriu debêntures (títulos de dívida) e novas cotas do empreendimento.

O fundo dos Correios encerrou 2014 com R$ 445 milhões no ETB e na Xnice, já incluindo o rendimento dos juros. Quase seis anos após o lançamento, a nova bolsa ainda não saiu do papel.

O CONSULTOR

Esse não foi o único negócio da dupla com o Postalis. Pinheiro Machado criou a empresa RO Participações e emitiu debêntures (títulos da dívida) de R$ 72 milhões.

Em junho de 2015, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) advertiu o banco BNY Mellon, administrador dos recursos da Postalis na operação com a RO, sobre o “alto custo” com prestadores de serviço para lançar as debêntures. Após a entrada do dinheiro do Postalis, a RO pagou R$ 2,5 milhões a uma empresa de Lyra, a Credpag, a título de “consultoria”.

Outra operação pouco ortodoxa para os padrões do mercado envolveu a Alubam Participações, outra empresa de Pinheiro Machado, que lançou debêntures de R$ 62 milhões. Novamente, o Postalis foi o único comprador.

A origem da investigação da PF que detectou o rombo de R$ 5 bi no Postalis é a compra de títulos de dívida do grupo educacional Galileo pelo Postalis (R$ 75 milhões) e pela Petros (fundo de pensão da Petrobras, R$ 25 milhões). Arthur Pinheiro Machado foi cotista do Galileo.

OUTRO LADO

Arthur Pinheiro Machado negou que tenha se beneficiado de contatos políticos para obter dinheiro do fundo de pensão.

“O Postalis nunca perdeu dinheiro com a gente: na debênture da RO Participações, investiram R$ 72 milhões e resgatou R$ 90 mi. Na Alubam, anteciparemos pagamento dos juros, que é substancial, em menos de um ano”, disse ele.

Segundo Machado, a nova bolsa ainda depende de autorização dos órgãos reguladores para começar a operar.

Sobre a relação com o operador do PMDB em fundos de pensão, Machado disse que Milton Lyra foi para o conselho de administração da gestora da nova bolsa por indicação da antiga direção do Postalis –algo que o Postalis não confirma.

“Não precisei do Milton para estabelecer nenhuma relação com ninguém. Quem fez a relação com o Postalis foi o BNY Mellon”, declarou.

O banco BNY Mellon não comentou o caso invocando sigilo bancário, mas fez uma ressalva que contradiz Machado: “investidores qualificados de fundos exclusivos, tais como fundos de pensão, trabalham em conjunto com os gestores destes fundos para analisar e aprovar os investimentos”.

Milton Lyra disse que jamais atuou para buscar recursos no Postalis para qualquer empresa. Sobre a sociedade na empresa de táxi aéreo, Machado e Lyra disseram que o projeto não prosperou.

Indagado sobre Lyra, o presidente do Senado, Renan Calheiros, afirmou que “jamais autorizou que o seu nome fosse usado por terceiros”.

 

Texto de: GRACILIANO ROCHA
BELA MEGALE

Reprodução: Folha Poder

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