Um assassinato marca o Dia da Consciência Negra e esfrega a realidade na cara do Brasil
Publicado em 20/11/2020 12:14
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Se era isso que faltava, o Brasil já tem seu George Floyd, homem negro estrangulado até a morte por um policial branco em Mineápolis, nos Estados Unidos, violência que desencadeou uma das mais fortes ondas de protestos antirracistas no país depois dos liderados por Martin Luther King.
Brutalidade explícita
O brasileiro é João Alberto Silveira Freitas, negro, 40 anos, assassinado em uma unidade do supermercado Carrefour, em Porto Alegre, na noite de quinta-feira, inacreditavelmente na véspera do Dia da Consciência Negra.
O motivo da violência descabida? Para quem se contenta com a banalidade, vídeos mostram que João discutiu com uma caixa, foi abordado pela segurança com ajuda de um policial, levado para o estacionamento e espancado até a morte.
Alguém disse que ele agrediu o segurança antes. Será que para os cidadãos de bem isso justifica tamanha brutalidade?
Racismo e genocídio no Brasil
A combinação de racismo e brutalidade policial é ainda mais letal no Brasil que na América do Norte. Aqui o racismo tem ditado a dinâmica das relações sociais desde a abolição da escravidão, há 123 anos.
Não bastassem as mazelas sociais que afligem historicamente a população negra por meio do subemprego, do desemprego, da falta de moradia, dos serviços precários de saúde e educação, da falta de oportunidades e da discriminação racial nos ambientes sociais, é verificável a vigência de um projeto de extermínio da população negra, por parte do Estado, nas periferias das cidades brasileiras.
Violência tem nomes
João Pedro, Ágatha Félix, Evaldo dos Santos, Marielle Franco, o pedreiro Amarildo e milhares de jovens assassinados diariamente, incógnita e impunemente nas periferias pobres do país são prova cabal do racismo estrutural exposto monstruosamente pelo assassinato de João Alberto na véspera do Dia da Consciência Negra.
O problema e secular é ainda estudado de forma enviesada, quando não escondido nas escolas e na mídia empresarial. Mas nos últimos anos começou a ser gravado e aparecer nas telas dos celulares e está ficando explícito.
Dois casos recentes gravados no Rio de janeiro escancaram o problema. No dia 14 de fevereiro do ano passado, Pedro Henrique de Oliveira Gonzaga, 19 anos, foi morto por um segurança do supermercado Extra, do Grupo Pão de Açúcar, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Ao “conter” o jovem negro, ele deu uma gravata e jogou seu peso sobre ele.
Em agosto deste ano, o entregador Matheus Fernandes foi trocar o relógio que havia comprado para o pai na loja Renner, do Shopping Ilha Plaza, no Rio de Janeiro. Arrancado do local por dois homens, foi acusado de roubar a mercadoria, imobilizado na escada de emergência e agredido. Uma pistola foi apontada para ele e só não ocorreu o pior porque um amigo chamou outras pessoas.
Assim como a violência, a população negra no Brasil é maior que nos Estados Unidos. Segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2018, dos 207,8 milhões de moradores do país, 46,5% se declaram pardos, 9,3% pretos e 43,1%, brancos.
O que fazer?
A violência explícita claramente racista que vitimou João Alberto reforça a urgência de políticas, atitudes, ações! Formar os educadores para disseminar a consciência antirracista, fortalecer a resistência e produzir gerações antirracista é um passo decisivo.
Mas é preciso muito mais e de toda a sociedade. A mobilização nos EUA ocorreu mesmo no momento mais grave da pandemia, ganhou o mundo, influenciou na vida política e refletiu na eleição presidencial. Isso indica que a mobilização social de negros e brancos é pressuposto sem o qual as mudanças tardam ou não vêm!