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Em CPI, presidente de banco admite fraude envolvendo fundo dos Correios

Publicado em 30/09/2015 11:49

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Em depoimento à CPI dos Fundos de Pensão, o presidente para a América Latina do banco BNY Mellon, Eduardo Koelle, reconheceu ter havido fraude em compras de papéis estrangeiros com recursos do Postalis (fundo de pensão dos trabalhadores dos Correios) administrados pelo banco, mas disse que o BNY não tem responsabilidade sobre o caso.

Segundo Koelle, uma investigação interna do BNY apontou que a culpada foi a empresa Atlântica Asset Management, gestora do fundo de investimento Fidex, que registrou as perdas. O dono da Atlântica, Fabrizio Neves, renunciou unilateralmente à gestão do Fidex e saiu do Brasil, afirmou Koelle.

Em sessão anterior da CPI, o diretor-presidente do Postalis, Antonio Carlos Conquista, acusou o BNY de ter causado um rombo no fundo de pensão dos carteiros. Koelle disse nesta terça (29) que, como administrador, o banco não escolhia em que ativos investir. Isso ficaria a cargo do gestor.

Para os deputados que compõem a comissão, o que se vê é um “jogo de empurra”. Por isso, eles cogitam uma acareação entre o presidente do Postalis e o do BNY.

A disputa entre o fundo de pensão e o banco sediado em Nova York foi parar na Justiça do Rio de Janeiro. Em primeira e segunda instâncias, a Justiça fluminense determinou o bloqueio de bens do banco no valor de R$ 197,8 milhões, com o objetivo de ressarcir o Postalis em caso de condenação.

Para a Justiça, o administrador não pode se eximir de responsabilidade, porque é ele que contrata o gestor. O montante bloqueado refere-se à parte do rombo relativa à compra de papéis da Venezuela e da Argentina. O rombo total do Postalis é estimado pelos servidores dos Correios, que acompanharam a sessão na Câmara, em cerca de R$ 6,3 bilhões.

“Quando eu entrei na instituição [BNY Mellon], contratei advogados para apurar o caso, porque isso se tornou um litígio. O que me foi colocado pelos advogados foi que ocorreu uma fraude nos papéis”, afirmou Koelle.

“Os títulos que foram comprados da Venezuela foram tirados de onde deveriam estar custodiados, à revelia do BNY Mellon, com o firme propósito de enganar o administrador. Foram adulterados com ‘Liquid Paper’. São papéis emitidos por instituições de primeira linha, adulterados na sua precificação, para então serem vendidos ao Postalis. E o que está no relatório da SEC, que é o órgão regulador americano [equivalente à Comissão de Valores Mobiliários no Brasil], é que esses recursos majorados foram desviados para uma empresa chamada Spectra, que, segundo o relatório, pertencia ao presidente do Postalis na época”, completou.

O presidente do Postalis, na ocasião, era Alexej Predtechensky, que dirigiu o fundo de 2006 a 2012.

“Mesmo não tendo falado o que todos queríamos ouvir, o CEO do BNY reconheceu que houve perdas do Postalis, o que nos leva à dedução lógica de que o banco foi conivente com a gestão fraudulenta dos recursos do fundo e deve ser responsabilizado com a recomposição dos prejuízos”, disse o relator da CPI, Sérgio Souza (PMDB-PR).

Por iniciativa do presidente da comissão, Efraim Filho (DEM-PB), a CPI vai oficiar o Banco Central para se manifestar sobre eventuais prejuízos ao sistema bancário que possam ter sido causados pelo BNY Mellon.

Reprodução: Folha de São Paulo

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