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#OpiniãoEcetista: Retorno às origens

Publicado em 25/08/2017 11:43

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Parece até que estamos passando pela queda da União Soviética novamente, tamanha é a depressão coletiva que a reforma trabalhista vem produzindo em certos círculos da esquerda brasileira. Alguns companheiros embarcaram na onda dos “novos tempos” para o sindicalismo, inquirindo – de forma apocalíptica – como iremos atuar daqui para frente, após a malfadada reforma.

Faz parte do senso comum – que há muito tempo vem sendo construído pelas mídias burguesas, e seu discurso conservador – dizer que nos tempos da pós-modernidade não há mais a necessidade de sindicatos, alegando que nos dias de hoje as relações Capital X Trabalho já não são mais desiguais, e que os trabalhadores tem plena condição de tratar individualmente suas demandas frente ao patrão e a empresa.

 “… o livre mercado protegeria os empregados. […] paga pouco e exige muito os melhores empregados naturalmente o abandonariam e iriam trabalhar para a concorrência…”. *

Realmente, as tecnologias desenvolvidas a partir da década de 70/80 aceleraram muito as comunicações entre as pessoas, as comunidades, as etnias, povos e nações. O comércio, e as relações econômicas, atingiram um ritmo jamais imaginado dentro da história humana. O idoso de classe média aposentado da Finlândia e do Canadá tem sua aposentadoria garantida por fundos de pensão que investem seus recursos em ações de multinacionais, que exploram mão-de-obra infantil na índia, na Nicarágua ou na áfrica do Sul, não se dando conta, e nem se importando que é a exploração de seres frágeis que garantem o seu bem estar.

Não é uma divagação fortuita. Estou apenas dando um exemplo (exagerado) para nos lembrarmos que as relações econômicas continuam seguindo o mesmo script dos séculos XVIII e XIX. Apesar da internet, das redes sociais, dos gigantescos volumes de informação – e desinformação – a que somos submetidas, o que continua regendo as relações entre capital e trabalho é a velha lei do custo benefício, o menor custo pelo melhor preço.

O empregador vai ao mercado buscando pagar o mínimo possível pelas matérias primas e mão-de-obra, enquanto tenta vender seus produtos pelo maior preço, visando maximizar seus lucros.

Quem conseguir me convencer que essa regra básica das relações econômicas mudou, terá todo meu respeito e admiração!

Camaradas, as relações econômicas básicas que regem nossas sociedades ocidentais não mudaram, como querem nos convencer, então nossas lideranças sindicais não devem mudar a forma de levar a luta sindical. Não há o que reinventar, não há o que adaptar agora após a reforma trabalhista.

Pelo contrario, devemos sair dos gabinetes dos legisladores e dos corredores do congresso nacional. Por obrigação, e por prazer de oficio, retornar as portas das fabricas, voltar a fazer a luta e a organização sindical como aqueles que conquistaram a jornada de trabalho de oito horas diárias, as folgas semanais remuneradas, o direito a livre associação e reunião, e todas as outras conquistas que hoje nos parece tão naturais.

A reforma trabalhista trará retrocessos que nos remeterão ao início do sec. XX, sem financiamento obrigatório para as entidades sindicais, sem unicidade, liberdade para o capital agir de forma desimpedida, índices de exploração exacerbados, etc.

Cabe, então, a nós, voltar à luta e militar como os camaradas das trade unions** do sec. XIX, e todos os pioneiros que deram o sangue para usufruirmos dos direitos de hoje. Vamos relembrar como os operários italianos e espanhóis organizaram os primeiros sindicatos da Brasil nos anos 10 e 20, com a ideologia libertária do anarquismo, socialismo e marxismo. É hora de partirmos para o contra ataque e iniciar a reconquista do espaço que o falso esquerdismo petista entregou de mão- beijada para as forças reacionárias que agora partem para cima da classe trabalhadora e dos nossos direitos.

As redes sociais, internet, e mídias alternativas são apenas instrumentos de trabalho de devem ser bem utilizados, mas o que deve reger a luta de classes é a ideologia socialista e a verdadeira visão de unidade operária, buscando construir o sentimento de união e luta comum.

Podemos ter perdido uma batalha, mas estamos longe de perder a guerra.

Vamos resgatar o orgulho de sermos trabalhadores, conscientes de nosso papel de luta revolucionária visando a transformação e a melhoria de nosso pais e do nosso mundo.

*HARARI, Yuval Noah – Sapiens, uma breve história da humanidade pag. 339 (2017)

**Trade Unions – Grupo de Sindicato do século XIX que formou as bases do Sindicalismo utilizadas até os dias atuais.

 

Texto de Diomédio Franscisco – Secretário Geral do SINDECTEB-Bauru e Diretor da FINDECT

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